Deveria ser apenas mais um dia normal de aula na escola Armstrong. Otto saía de cabeça baixa, com as mãos nos bolsos do blazer, uniforme da escola. Sério, com os cabelos negros e ondulados balançando com o vento e tapando o rosto, ele caminhava com passos lentos, sozinho em meio aos risos, conversas e gritos da saída. Sentia-se deslocado ali. Como sempre, atravessou a rua e foi até a praça para atravessá-la. Um atalho para sua casa. Com os fones enterrados nos ouvidos e seu MP4 ligado, escutava Cannibal Corpse quase que no volume máximo. Destaído, ele nem percebia o chão que tocava e tudo envolta. E pra quê? Ninguém o acompanhava até em casa, e não tinha quase amigos. Nessa falta de atenção ele acaba tropeçando em algo e cai no chão. Sorte que o solo é composto de terra e grama. Ele se ajeita, tira os fones e limpa o blazer azul-marinho, a gravata vermelha, a camisa branca e a calça social azul. Tira os fones dos ouvidos, guarda no bolso de dentro do blazer e resmunga:

- Que... Que merda é essa? Quem foi o imbecil que deixou uma vassoura no meio da praça?

Disse ele, irritado. Levantou-se e olhou bem para baixo, percebendo que aquilo não era uma vassoura. O cabo era negro... E na ponta do cabo, uma longa lâmina negra e curvada. Uma... Foice?! Quem seria o imbecil de deixar uma arma branca em uma praça pública??!!! Irritado e curioso, ele abaixa e olha a arma de perto. Sempre teve curiosidade de ver e pegar uma arma branca poderosa nas mãos. E aquela, apesar de ser completamente negra, parecia bem afiada. Levou a mão direita até o cabo, para ver... Quando a mão fria segurou o cabo, este simplesmente toma uma forma estranha e se torna fumaça. E some no ar. O rapaz quase dá um salto para trás, assustado... O que fora aquilo? Pegadinha? Olhou para os lados, assustado, mas não viu ninguém. Esquisito. Com o coração batendo forte e as mãos tremendo, ajeitou a mochila a roupa, os fones e seguiu caminhando. Como sempre, quando chegava na metade da praça, começava a anoitecer. Mas... Mas que merda?! Não estava exatamente de noite. O céu estava vermelho. Vermelho-sangue. Como se tivessem pintado. Ele para, olha para cima, com as mãos nos bolsos. Então, um grito. Mais para um rugido de congelar a espinha. Quase que o grito de um animal sedento por sangue. O sangue esfriou, os olhos arregalaram, o coração quase saltou pela boca e o corpo tremeu. Assustado, Otto olhou para trás... E... O corpo congelou. Os olhos apenas fixavam-se na criatura que vinha correndo na sua direção. Era algo horrível. Tinha braços enormes e nos dedos, garras negras. Da mão até a metade do antebraço era vermelho, e o resto, branco excessivamente pálido. Os membros inferiores eram iguais. Porém, eram pés. O corpo era bruto, parecia daqueles ogros que via nas imagens dos livros de RPG que tanto jogava. Porém, o corpo daquele monstro que vinha correndo na sua direção era mais musculoso e bruto. O rosto era o mais aterrorizante. Parecia o rosto de um humano, fundido com o de um ogro, misturado com presas de lobo e olhos de dragão. Sem contar que estava completamente manchado do que parecia ser sangue, e estava completamente retalhado, com marcas e cicatrizes por todo rosto. Os olhos abertos, exibindo a cor escarlate e a boca aberta, exibindo os dentes afiados e a boca suja. Não tinha o que fazer. O monstro vinha muito rápido, e Otto não conseguia se mecher. Eis que escuta uma voz.

- Das infinitas flores, escolho você! Kaya, a rosa escarlate!

De uma direção aleatória, três rosas vermelhas eram atiradas numa velocidade incrível. O monstro parou, derrapou no chão, e olhou para a direção da voz. Nada pode fazer. As 3 flores, no momento que tocam o peito do monstro, explodem. Cada uma numa explosão que poderia ser comparada a de um C4! Agora imagine 3 C4, um do lado do outro, explodindo ao mesmo tempo! Aquela coisa feia é atirada para o lado e bate com o corpo numa árvore... Cinza... E seca...?! Nunca havia percebido aquela estranha árvore ali. Urrando de dor, o bixo se levanta e dá um golpe no ar, na direção que veio as rosas. Parecia que ele via. Do corte no ar, 5 cortes horizontais negros com algumas manchas movendo-se em vermelho-sangue foram atiradas contra lá. Otto rapidamente move o olhar para onde os cortes foram, e lá apenas via um vulto negro com uma espécie de casaco... Ou sobretudo... Ou seja lá o que for. Quando o corte se aproxima, ele apenas salta, e quando passa pela lua... Causa um efeito estrondoso. A lua estava negra... E a sombra da estranha figura no céu parecia vermelha. A voz diz, novamente:

- Das rosas do inferno, eu colho você! Rikka, a rosa assassina!

Ele atira algo com a mão. Então, no céu pintado de sangue, centenas de espécies de espinhos foram atirados contra a criatura. Não eram espinhos... Eram rosas! Destavez, rosas negras! Elas são atiradas contra o monstro, perfuram, rasgam e cortam. Eram em média umas 35 rosas, todas acertaram-no de alguma maneira. O sangue é atirado contra a árvore cinza. As manchas vão espalhando, e parece que a árvore sugava o sangue. Ela fica na cor do sangue... E o monstro vai ficando branco, e desaparecendo... A pele vai sumindo, logo a carne e os ossos. Restando apenas uma bolinha de luz. O vulto que atirou as rosas para no horizonte, de costas. Apenas continuava sendo um vulto negro. Esse estende o braço, e a bolinha vai até a mão. Em seguida, aquele ponto de luz, gira envolta do braço até... Entrar no corpo? Otto, corre na direção do ser, cambaleando, e grita:

- EI! QUEM É VOCÊ? O QUE ERA AQUILO? POR QUÊ O CÉU ESTÁ DIFERENTE... EI... EI!

O indivíduo move a cabeça para o lado, como se olhasse para o estudante. Apenas um brilho roxo é exibido no rosto... Talvez o olho? Antes que pudesse chegar perto, ele desaparece na fumaça negra. Sem o que fazer, e com um estranho frio, o rapaz vai caminhando rapidamente para sua casa, com medo de ver algo pior. Entrou em casa, a mãe foi logo ver. O abraçou e disse:

- Otto! Você demorou? Onde estava? Eu estava preocupada!

- Mãe... Eu estava bem... Ah! Mãe... Demônios existem, né?

- Demônios? Claro que sim! Mas as pessoas nunca podem ver. Por quê?

- Acho que vi um, mãe.

- ...O quê?

- Vi um. E uma pessoa o matou com umas rosas...

- Ok, andaram te dando drogas, foi, Otto?

- É sério! E, olha! O céu está vermelho, e a lua negra!

A mulher vai até a janela, coloca a cabeça para fora. Ri, e fica na frente do filho:

- Ok, está com sono. Vá tomar um banho e jante. Depois, vá dormir. E nada de ligar o computador!

- Ok...

Ainda com as estranhas cenas na cabeça, nada mais fazendo sentido, foi tomar banho. Como sempre, demorou quase 30 minutos. Saiu, secou-se, vestiu a roupa e de cabeça baixa, arrastando os pés, pálido, e com uma cara preocupada, sentou-se na mesa de jantar, agora, vazia. Olhou para o relógio... Onze e meia. Havia demorado tanto assim? Perdera a noção do horário? Ou a praça havia ficado maior? Não sabia nada. Apenas bebeu o café com leite, comeu apenas um pão, e foi para o quarto. Antes, passou no quarto dos pais, deu boa noite para os dois, e foi deitar-se, a cama já arrumada pela mãe. Arrumada de um jeito impecável, de um jeito que nunca conseguiria fazer sozinho. Deitou-se, ajeitou-se e ficou parado, olhando para a parede cor-de-areia. O que estava acontecendo? O que era aquilo? Quem era aquela pessoa? Provávelmente teria pesadelos. E dos fortes. Demorou mais umas 2 horas para dormir... Mas caiu no sono. E de cara começou a sonhar... Com algo nada alegre.


To be continued...

Estava caindo... Caindo... Escuridão eterna. Não tinha fim. Mal pudia ver o próprio corpo. Ou melhor, não conseguia ver o próprio corpo. Uma queda sem fim? Não, de fato, não era. Caiu em algo sólido. Parecia madeira. O estranho é que havia caido de costas, mas o impacto foi fraco, e nem sentia dores. Agora, tudo estava escuro, com estranhas manchas vermelhas passando. Pareciam nuvens... E o solo era negro... Não pudia ver onde era o chão ou onde era seu fim. Levantou-se aos poucos.... Agora via sua roupa. Incrivelmente, tudo estava escuro, mas o próprio corpo parecia estar sendo iluminado por uma forte luz. Estava vestindo uma capa negra. Não era bem capa. Tinha capuz sobre a cabeça, e era completamente negro. Parecia mais um casaco... Era bem longo, as mangas iam até a metade da mão e a ponta inferior arrastava no chão. O único lugar que se prendia era no peito. Havia um medalhão ali com um estranho símbolo. Era... Um pentagrama... No meo, uma foice caricata. Vestia uma camiseta cinza-escuro, calça larga cinza-escuro e sapatos de couro negro. Que merda de roupa era aquela. Estava de pé, no meio do nada. Não sentia frio nem calor. Era algo completamente estranho.

- Ah... Você está aqui. Acho que posso começar...

- Huh? Quem está aí? Quem?!

- Ah, qual é, Otto... Parece que viu assombrações hoje. HAHAHA! Perdoe minha piada infame. Deixe-me apresentar.

Do horizonte à frente, uma figura vestindo uma roupa exatamente igual à sua aparece. Porém, ele não estava com capuz. Devia ser mais alto que Otto, tinha mais ou menos 1,83 de altura, Otto tinha 1,78... Tinha cabelos negros longos até o final do pescoço, olho direito vermelho e esquerdo azul. Na frente, uma mecha branca à direita do rosto. Os olhos castanhos do rapaz fitaram aquela figura estranha... Ele retirou o capuz e levantou-se, fitando o que parecia ser um homem. Ele se identificou:

- Sou Zack, prazer. Sou um Grimm Reaper... Conhecido como Ceifador de Almas... Ou morte.


A palavra foi como um tiro no peito do estudante. Morte... Encontrar a morte personificada?! Algo nada bom... Ele apenas arregalou os olhos e o coração disparou, o corpo tremendo. O reaper misterioso prossegue:

- Eu era o dono da foice que você adquiriu.

- Adquiri? Como? Aquela... Coisa... Simplesmente sumiu quando toquei!

- Não é coisa, é foice. A arma de trabalho de um ceifador. E sim, você a adquiriu. Do momento que é tocada por um humano, ela rapidamente se une à alma de quem tocou, levando-o para um paralelo entre o plano material e o plano espiritual.

- O quê? O quê você está falando...? Explique melhor!

- Certo. Vocês, humanos, vivem no plano material. Do momento em que adquirem a foice de um Grimm Reaper morto, ficam no paralelo entre o plano espiritual e plano material. Sendo assim, fica um trecho de terra material, outro trecho, espiritual. Você corre normal pelo trecho material. Quando passa pelo espiritual, é como se o tempo material parasse para você, mas o espiritual ainda está funcionando. E isso não é forma de se parar o tempo. Uma vez que, seu corpo está "preso" no material, seu espírito não evolui. A não ser que você invoque a foice...

- Isso... Isso é impossível! Isso só acontece em animes, mangás e-

- Cala a boca, porra! Posso terminar de explicar? Do momento em que você invoca a foice, seu corpo material fica no "auto-piloto" fazendo tudo que você planejou, pensando como você, agindo como você. É como se duplicassem sua alma para que uma controle o corpo e o corpo espiritual continue a fazer o serviço. Entendeu agora? E sim, você está sonhando. Mas seu corpo espiritual veio ao encontro de meu corpo espiritual. O corpo espiritual de um reaper é composta de duas partes. O corpo e a foice. Do momento que ele morre, sua alma fica presa na foice. Ou pelo menos a metade de sua alma. Então, caso um reaper adquira a foice, todo o poder da alma do reaper dono daquela foice é dado para aquele que a adquiriu, mas pela metade. Afinal, a foice é só a metade da alma. Quando um humano adquire, ele se torna um "hibrido". Meio humano meio reaper. Porém, o reaper absorve a alma. O humano funde a alma. Sendo assim, eu e você, a partir do momento que você tocou a foice, somos o mesmo. Entendeu até aqui?

Otto não sabia o que falar ou o quê fazer. Apenas caiu no chão de joelhos, colocou as mãos na cabeça e colocou a cabeça entre as pernas. Era loucura demais para um garoto de 16 anos. Sem conseguir respirar direito e o coração quase explodindo, começou a chorar. Lágrimas transparentes escorriam dos olhos do garoto, enquanto ele resmungava:

- Droga... Droga! O que é isso? É algum tipo de pesadelo? Me acorde logo! Não quero isso... Não pode ser verdade! Eu... Eu não quero! Procure outro idiota, me deixe em paz!

O reaper de olhos bicolores, sério, caminhou até Otto e abaixou-se ao lado dele, colocando a mão na cabeça. Disse, baixinho:

- Calma, cara. Vai ficar tudo bem... Não precisa se pressionar. Eu sei que as coisas são complicadas... Quando descobri o que eu era, foi também. Mas com o tempo você se acostuma... E eu vou te proteger. Ok?

Ele não respondeu. Zack tornou a falar:

- Espero que escute, vem a parte mais importante. Um reaper tem 4 ferramentas: O Livro das Almas, o Livro do Ranking, o Livro dos Encantos e a Foice. O Livro das Almas é o livro em que todas as almas de humanos que precisam ser levadas para o paraíso ou para o inferno. O Livro do Ranking é o livro que, de fato, mostra o ranking dos Reapers. Os mais poderosos são aqueles que tem mais número de almas levadas. Eu estava no top 5, em quarto lugar... Enfim. O Livro dos Encantos é o livro que tem a lista de encantos. De início, só o básico. Conforme vai se aprimorando, vão surgindo nas páginas os encantos mais avançados. E a foice é a arma que os Grimm Reapers usam para pegar as almas. Mas elas tem duas formas. A forma normal, para pegar almas de humanos, e a forma de batalha, para pegar a alma dos Darklings.

- O... O que é um Darkling?

Disse otto, secando as lágrimas e ficando de pé, olhando para o reaper que era mais alto.

- Sabe aquele monstro que correu atrás de você? Aquele era um Darkling de nível alto. Eles são listados em níveis: Demi-Dark, Baixo, Médio, Alto, Golem e Ultimate. Demi-Dark são os que estão ainda em transformação. Por que a alma dos humanos se transformam? Porque eles ficam muito tempo na terra, sendo corrompidos pelos pecados e merdas dos vivos. Baixo são recém transformados. Médio e Alto são auto-explicativos. Golem são poderosíssimos, e são enormes mesmo, como o nome sugere. E são feios pra caralho! Haha! Oh! Esqueci de uma coisa. Almas de humanos podem se transformar em Darklings mais rapidamente quando são comidas por um Darkling. E... Ultimate é a forma mais poderosa. Até hoje, nenhum reaper viu um. Dizem que ele tem uma forma humana. E, quando um reaper mata um Darkling, ele se apodera da alma dele e de todas as almas que ele comeu. Por exemplo, se um Darkling comeu 7 almas, o reaper, quando derrotá-lo, contará como 8. Agora, para ativar o modo de batalha, você se vira. Porque, agora, a foice é sua, e ela é diferente da minha. Então, você terá que descobrir sozinho. Entendo tudo?

Otto não disse nada, apenas assentiu. Então, Zack riu e foi caminhando em direção às sombras.

- Ok. Agora... Um teste. Você não pode ser um reaper se não souber ativar seu modo de batalha, né?

- E-EI! ESPERA! SENHOR... SENHOR! NÃO ESTOU PRONTO!

- Está sim. Ah, e... Meu nome... É... Zack.

Não pode fazer nada. Tentou correr atrás do reaper, mas tudo que tinha à frente era escuro infinito. Parou, tremendo. Não conseguia acordar... Então, um grito. Um grito pesado... O mesmo grito que havia escutado horas atrás. Ou o tempo não havia passado? Estava seu corpo material num trecho do plano material, ou estava no plano material...? Ou era um sonho? Seria um lugar de sua consciência? Não sabia o que era. Escutou o grito novamente... Aquele grito ecoou por todo lugar, e também em seus ouvidos... Sua mente... O corpo gelou, o coração disparou, o corpo paralizou. Olhou envolta, com os olhos arregalados... Atrás... Atrás! Escutava passos pesados. E, de onde vinha o som desses passos ele olhou... Dois olhos escarlates. Correndo em sua direção. Aproximava-se rápido... Rápido demais.

To be continued...